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‘A família perdeu o chão’, diz filha de idosa baleada na Barros Reis

Ao longo de toda segunda-feira (1°) não houve um momento em que o passeio do Hospital Ernesto Simões, em Salvador, ficasse vazio. Por lá, dezenas de familiares e amigos de Maria de Lurdes Alves dos Santos, 65 anos, se alinharam para sentar e esperar por notícias sobre a aposentada, que está em estado grave na UTI da unidade após ser atingida por uma bala perdida durante um confronto entre agentes da Polícia Militar (PM) e suspeitos de assalto na Avenida Barros Reis. Moradora da localidade do Brongo, no bairro do IAPI, Maria de Lurdes costuma fazer caminhadas na avenida há mais de quatro anos. 

Entre filhos, netos e pessoas próximas à idosa, o choro e a expressão aflita eram comuns. Isso porque, mais do que parte da família, Maria de Lurdes é tida como o maior elo entre eles, como explica a filha Ana Angélica Silva, 44. “Minha mãe é tudo! É o porto seguro dos filhos, quem sempre ajuda nos momentos difíceis. Ela é o centro da família e todo mundo está desesperado. A família perdeu o chão, ela é nossa referência”, fala Ana, ainda muito abalada com a situação.

De acordo com familiares, a idosa chegou ao hospital ainda consciente, mas teve uma piora no seu estado de saúde e precisou ser entubada. A bala atingiu a aposentada pelo abdômen, atravessou o corpo e não ficou alojada. O  intenso sangramento, no entanto, fez com que a equipe médica precisasse realizar uma cirurgia. Durante a tarde, Ana Angélica esperou pela possibilidade de visitar a mãe, porém não conseguiu até o fechamento desta reportagem.

O que já se sabe é que, por ter perdido muito sangue, Maria de Lurdes precisa de doações. Quem quiser ajudar pode se dirigir ao Hemoba e manifestar o desejo de doar diretamente para ela. Ainda segundo a família, pessoas de todo tipo sanguíneo podem fazer a doação para ajudar. As próximas 24 horas são cruciais no processo de recuperação, já que o corpo precisa reagir e a idosa deve passar por uma nova cirurgia.

Medo anterior 

A situação atual era algo temido pela família. Genro da aposentada, Ricardo Correa, 49, conta que os parentes já tinham a alertado sobre os riscos de caminhar muito cedo. “Todo dia ela sai 4h50 para fazer essa caminhada na companhia da amiga. Inclusive, nós já brigamos várias vezes com ela em relação ao horário porque é perigoso. Porém, pra ela, que trabalha também como diarista três vezes por semana, é o momento ideal”, conta Ricardo, que é comerciante e fechou seu estabelecimento para acompanhar a situação da sogra.

Assim como ele, mais pessoas próximas não conseguiram ir ao trabalho por conta da preocupação com Maria de Lurdes. Ana Angélica, que também é diarista, se preparava para sair quando soube que mãe tinha sido atingida. “Eu estava arrumada, só aguardando a hora de ir mesmo. Quando vi, o vizinho chegou no portão avisando do que aconteceu. Não pensei duas vezes,  não fui ao trabalho e corri para ficar perto dela. Outros aqui também largaram tudo para apoiar ela”, conta. 

Apesar do estado grave, os familiares afirmaram acreditar na recuperação da idosa. Além dela, foram encaminhados ao Hospital Ernesto Simões também os dois suspeitos envolvidos no confronto com a polícia que foram baleados e presos. Porém, eles não resistiram aos ferimentos e faleceram na unidade. A PM não revelou a identidade dos dois. Em nota, a corporação explicou o porquê do confronto.

De acordo com a PM, equipes da Operação Gêmeos faziam rondas na BR-324 quando foram informadas que dois homens em uma moto estavam assaltando na Avenida Barros Reis. Os policiais encontraram os suspeitos, que começaram a atirar contra os PMs. Houve troca de tiros, um dos homens foi baleado e o outro conseguiu fugir. Houve nova perseguição, troca de tiros e o segundo suspeito também foi baleado.

Bala atingiu RG de Maria de Lurdes (Foto: Marina Silva/CORREIO)

A Polícia Cívil (PC) foi procurada pela reportagem para dar informações sobre o processo de investigação. Perguntada se os dois suspeitos também tinham envolvimento com outros crimes além de assalto, a PC disse apenas que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa apura as circunstâncias da ação.

Ricardo Correa conta que ações como a dos dois suspeitos já são comuns na região das Barros Reis, principalmente, pela manhã. Por lá, segundo ele, quem precisa ficar no ponto de ônibus logo cedo vive com medo. “Toda hora é notícia de gente que perdeu o celular lá, os caras saem de manhã para roubar trabalhador. Semana passada, até o pessoal que trabalha recolhendo lixo foi vítima. Não tem paz ali não, é um aperto danado nessa faixa de horário”, fala ele, que até caminhava com a sogra, mas decidiu parar pelo medo da violência na área.

Área de risco

A reportagem questionou à PM se a região da Avenida Barros Reis é um ponto de foco de violência e solicitou dados de ocorrências registradas na área ao longo de 2022. A corporação respondeu que não conta com números do tipo. “Sobre dados quantitativos de diligências, não dispomos. A Polícia Militar atua contra o crime em caráter preventivo e ostensivo através de rondas e abordagens, assim como através de acionamento para qualquer tipo de ocorrência correspondente às unidades de área”, escreve por meio de nota.

Mesmo sem estatísticas em mãos, quem mora na região da avenida não titubeia ao responder sobre a segurança no local. Um morador, que prefere não se identificar, ratifica a situação. “Não tem como não considerar isso aqui uma das áreas perigosas da cidade que merece mais atenção. Toda hora é comentário de gente assaltada, de tiroteio e situações de crime que nos deixa com medo. Quem desce para Barro Reis sabe que segurança é algo que não vai encontrar”, pontua. 

Apesar de confirmar a presença de grupos criminosos nas imediações da avenida, um moradorbdo IAPI, que também não se identifica, diz que o local não é palco de muitos confrontos entre facções. O grande problema mesmo seriam os assaltos. “Hoje em dia, tráfico tem em todo lugar e por aqui não é diferente. Agora, essa não é a principal causa dos problemas aqui. Muita gente sai de outros lugares para assaltar em bairros perto da avenida porque é um lugar que você consegue sair rápido por conta das diversas ruas que eles podem entrar para fugir”, pontua ele, reclamando da falta de segurança na área.

Um ambulante que trabalha transitando pelas imediações afirma começar a rodar pela região só depois das 7h. Antes disso, de acordo com ele, é problema na certa. “Tem muito assalto de moto por aqui. Eu vejo uma com duas pessoas em cima e já fico de olho, precisa ser assim. Difícil não conhecer alguém que tenha passado por uma dessas aqui no ponto de ônibus ou até mesmo em um estabelecimento”, afirma ele, que também não revela o nome.

Sem parar

Para quem usa a avenida para praticar exercícios, o risco também é iminente. Mesmo assim, Maria de Lurdes nunca deixou de ir porque ficar parada não é uma opção para ela. “Ela é muito ativa, nunca quis saber de ficar sem fazer nada. É aposentada, mas não deixou de trabalhar para tirar um a mais. Vai caminhar há mais de quatro anos todo santo dia. Sempre foi assim e vai continuar desse jeito porque tenho fé que ela vai se recuperar”, fala a filha Ana Angélica.

Apesar de genro, Ricardo tem na aposentada uma figura de mãe. Ele, que acompanhou ela por um período nas caminhadas, se emociona ao destacar o quanto ela não se deixa parar. “Minha sogra é como mãe mesmo, ainda mais pra mim que perdi a minha. É uma pessoa que une todo mundo e ajuda todos. Essa movimentação ela também leva para as atividades físicas, é um exemplo. Torcendo para que ela se recupere e continue sendo assim, sempre ativa”, completa o comerciante.

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